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Valeu a pena sediar a Olimpíada? Para pesquisadores que estudam os impactos dos Jogos, ainda é cedo para avaliar - e a resposta dependerá do ponto de vista do observador.
Mas eles afirmam que a cobertura jornalística do evento - que intercalou momentos positivos e negativos - e o histórico de edições anteriores dão pistas sobre qual será o balanço final da Olimpíada.
"Ainda levará um tempo para entendermos o impacto dos Jogos no Rio", diz à BBC Brasil Alex Jones, analista político sênior do Brookings Institution, centro de pesquisas e debates em Washington, e autor de um artigo sobre falhas na organização do evento. "Ainda estamos para ver se os investimentos terão algum impacto não só na desigualdade econômica, mas na desigualdade espacial e no acesso a empregos pela cidade."
Piscina verdeImage copyrightAFP
Image captionÁgua da piscina ficou verde - e ninguém conseguiu explicar por quê

Pé direito e água verde

A Olimpíada parece ter começado com o pé direito, com uma abertura elogiada mundo afora. Jornais destacaram que, mesmo com um décimo do orçamento da abertura da Olimpíada de Londres em 2012, os organizadores empolgaram com o uso inteligente de luzes e projeções, fogos de artifício e apresentações que resumiram a história do Brasil sem romantizá-la.
Na primeira semana, porém, algumas notícias deram um tom negativo à cobertura. A água das piscinas onde ocorreram as provas de salto de trampolim e polo aquático ficou verde sem que houvesse explicações convincentes.
Um dos momentos mais delicados para os organizadores ocorreu quando os nadadores americanos Ryan Lochte e Jimmy Feigen se disseram vítimas de um assalto à mão armada quando deixavam uma festa com outros dois colegas. A denúncia acabou se revelando falsa e complicou os atletas, mas trouxe à tona problemas reais de segurança da cidade.
Os Jogos, no entanto, chegam ao fim sem grandes incidentes de segurança, apesar de algumas previsões catastróficas.
Cerimônia de abertura da OlimpíadaImage copyrightMARIO TAMA
Image captionCerimônia de abertura da Olimpíada foi elogiada ao redor do mundo

Mau momento

Do ponto de vista da imagem do Rio, Alex Jones acha que os Jogos podem ter trazido atenção internacional à cidade no momento errado, "talvez até prejudicando sua marca".
Ele lembra que quando a cidade venceu a disputa para sediar o evento, o Brasil vivia um período favorável, com bom desempenho econômico e crescente projeção mundial.
Mas a Olimpíada ocorreu durante uma grave crise econômica e política e meses após o Brasil se tornar o centro da epidemia mundial da zika.
Essas condições, diz ele, tornaram ainda mais negativa a cobertura jornalística anterior aos Jogos, que já costuma ser desfavorável às sedes por apontar atrasos nas obras.
Baía de GuanabaraImage copyrightAP
Image captionPoluição da Baía de Guanabara, onde ocorreram competições de vela, recebeu cobertura negativa pela imprensa
No caso do Rio, numerosas reportagens destacaram ainda a poluição na Baía da Guanabara.
Em texto para a seção de artigos do portal LinkedIn, Jones e o urbanista Bruce Katz ─ professor visitante da London School of Economics ─ dizem que as crises que o Brasil enfrenta agravaram os desafios urbanos do Rio.
Eles citam uma pesquisa que revelou que, nos últimos 15 anos, a taxa de produtividade da economia da cidade ficou estagnada. Nesse cenário, afirmam que remanejar recursos públicos para uma Olimpíada deveria ter como contrapartida retornos significativos.
Mas organização do evento, segundo eles, tornou-se "uma crise autoimposta de governança, economia e da sociedade civil".
Ryan Lochte, nadador americanoImage copyrightREUTERS
Image captionNadador americano Ryan Lochte diz ter sido vítima de assalto, mas denúncia se revelou falsa

Prejuízos

Para Jones, do ponto de vista econômico é quase certo que o evento tampouco foi vantajoso.
Ele afirma que uma cidade pode se beneficiar de uma Olimpíada de três maneiras: no curto prazo, com a vinda de turistas e estímulos econômicos gerados pelos Jogos; no médio prazo, com a promoção da marca da cidade; e no longo prazo, com os efeitos das obras urbanas feitas para a competição.
O analista diz, no entanto, que é difícil conseguir se beneficiar de qualquer uma dessas formas. No artigo para o LinkedIn, ele cita um estudo de 2012 da Universidade de Oxford que mostrou que, desde 1960, todas as Olimpíadas saíram mais caras do que o previsto. A dupla afirma que, no Rio, estima-se que os Jogos custarão US$ 1,6 bilhão a mais.
Do ponto de vista das melhorias urbanas para os Jogos, Jones e Katz acham que, "para uma cidade que sofre não só com segregação econômica mas também física, os investimentos para a Olimpíada fizeram pouco para integrar as favelas no norte do Rio".
Favela da Rocinha (RJ)Image copyrightGETTY IMAGES
Image captionLegado social da Olimpíada foi criticado por especialistas
"As extensões de BRT (corredores de ônibus) na Zona Norte foram mais criticadas pelos desalojamentos que geraram do que elogiadas por (criar) uma melhor integração com o resto da cidade."
Mas Jones afirma que a cidade ainda tem como ampliar os seus ganhos com os investimentos para os Jogos.
"Boa parte do legado da Olimpíada no Rio dependerá das obras de transporte", diz ele.




Fonte: BBC Brasil

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