
Bem, mas se são pedacinhos do Halley, onde está o cometa? Bem longe daqui, se afastando cada vez mais do nosso planeta após sua última passagem pelas redondezas, em 1986. A cada aproximação do Sol, que ocorre periodicamente em intervalos de 76 anos, ele produz uma bonita cauda e dispersa detritos por onde passa. São justamente esses pedacinhos deixados pela última passagem que aparecem como estrelas cadentes todo ano, quando a Terra atravessa a órbita do cometa.
Aliás, duas vezes por ano — uma quando a Terra passa pela trajetória de “ida” do Halley, e outra da “volta”. A primeira delas acontece agora, no começo de maio, com pico na madrugada do dia 6, e a outra, os famosos Orionídeos, é em outubro.
É um fenômeno sempre bonito de ver, e as circunstâncias são muito boas hoje — contanto que não haja nuvens. “Com a Lua na fase crescente, as condições de observação serão bastante favoráveis”, conta Cassio Leandro Barbosa, astrônomo da Univap (Universidade do Vale do Paraíba).
COMO OBSERVAR
Para ver a chuva de meteoros, não tem muito mistério. Trata-se do fenômeno astronômico mais democrático que tem. O único jeito bacana de observar é a olho nu. Binóculos, lunetas e telescópios só atrapalham.
O que mais se precisa, na verdade, é de paciência e pouco sono. Encontre um local onde se possa ter uma boa visão do céu e olhe na direção da constelação de Aquário. Para encontrá-la, olhe para o leste (onde o Sol nasce), a partir das 2h30 da manhã (use a carta celeste abaixo para localizar melhor). Quanto mais tarde, mais Aquário sobe no céu, facilitando a observação. Pouco antes do amanhecer, ele vai estar quase no zênite (o “topo” da abóbada celeste).
A razão para olhar para a constelação de Aquário é que é lá que está o chamado radiante da chuva de meteoros — o que significa que eles parecem emanar todos daquela direção. Mas a verdade é que eles podem aparecer em qualquer parte do céu.
A previsão teórica é a de 200 meteoros por hora, o que é um número bem bacana, mas não ache que vai ver todos eles. “Essa é a taxa horária zenital, com excelentes condições”, afirma Barbosa. Quando você leva em conta coisas como poluição luminosa, campo de visão e nível de atenção, o número cai bem. É preciso observar pelo menos por uma hora para pegar um número razoável de estrelas cadentes. “Visíveis mesmo, devemos ter por volta de 10 a 20 por hora”, complementa o astrônomo.
Nada contra ver acidentalmente uma estrela cadente e fazer um desejo. Mas a experiência ganha outro sabor quando você olha para essa mesma estrela cadente e sabe que se trata de uma partícula do cometa Halley — um pedacinho de gelo sujo formado na mesma época em que o Sol e seus planetas nasceram — queimando na atmosfera a estonteantes 237 mil km/h.
Uma das belezas da ciência é a revelação de pequenas histórias como essa, que transformam fenômenos naturais aparentemente aleatórios em momentos que forjam uma fascinante conexão entre a consciência humana e os mistérios do cosmos.
folha de são paulo
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